quarta-feira, 26 de março de 2014

EU QUERO ENVELHECER

                PORQUE "NÃO ENVELHECER"?




Foram necessários mais de 60 anos para que eu percebesse que a juventude não é o mais importante.
Há poucos dias, uma amiga me perguntou com que idade eu me sentia.
_ Vinte_ respondi sem nenhuma hesitação.
Em meu consciente, eu sempre serei jovem,  risonha, atrevida e rebelde. Mesmo ao me olhar no espelho e ter consciência de que o tempo passou e fisicamente, não sou mais a mesma, é claro.
Envelhecer sempre esteve dentro dos meus planos. Minha geração foi a última a crescer livre da influência da televisão, sempre com as estantes repletas de bons e muitos livros ao invés de  CD's, DVD's e Vídeos. Os discos de vinil eram tocados com frequência e as reuniões familiares eram de grande importância.
Um dia, um grande amigo comentou comigo: " Você se lembra de quando éramos jovens? Nada era bom o bastante. Fazíamos inúmeras perguntas e sempre procurávamos, nós mesmos, as respostas. Nos sentíamos os donos do mundo"!
Passamos da infância  à adolescência, por volta dos anos  60/70, num momento certo para viver uma grande mudança de estilos, política e comportamento. Eu teria adorado assistir a um show dos Beatles, sonhava em crescer, seguir a carreira artística e entrar para Hollywood para contracenar ao lado do meu eterno ídolo Elvis Presley e  encurtei todas as minhas saias feitas em casa.
Foi uma vida inteira de luta, trabalho, crises, decepções e traições. Em algumas ocasiões, cheguei a acreditar na " inexistência da felicidade". A maioria das pessoas, hoje, com poder e alguma autoridade, pertencem a minha geração e se antes, eu acreditava que poderíamos fazer o melhor, vejo que não foi feito assim. Talvez a herança da nossa geração não sejam apenas, música, nostalgia, lembranças de um tempo bom, mas também uma série de traições.
A ideologia errada sobre como educar e a preguiça  das famílias  traíram milhões de crianças em idade escolar com ideias erradas sobre a não competitividade e , fazendo dessa forma com que gerações inteiras saiam das escolas semi analfabetas, sem entender de nada e sem respeito por nada. E isso continua acontecendo até hoje.
Aos 30 anos eu  costumava apreciar a canção interpretada por Edith Piaf " Je ne regrette rien" ( Não me arrependo de nada) e imaginava que, mais velha, eu a cantaria para o mundo inteiro ouvir, como um brado de liberdade. No entanto, hoje, me arrependo,sim, de ter tomado algumas decisões. Porém, reconhecer que não temos respostas é o primeiro passo para refletirmos se estamos realmente fazendo as perguntas certas.
No ano de 2007 me submeti a uma cirurgia complicadíssima, de longa duração e antes de ir para o centro cirúrgico, já meio anestesiada, eu fiquei pensando que não havia me despedido de minhas filhas e de minha irmã. No entanto, passado o  período crítico, ao abrir os olhos, eu consegui dizer:-" Deus, eu não morri. Vou ficar boa.Obrigada"!
Quantas coisas aconteceram desse dia para cá!
Hoje, me ocorreu que mesmo tendo sido necessários mais de 60 anos para que eu tivesse a certeza de que nada de  banalidades me importava de fato, eu estou muito feliz por estar com toda essa idade. Quando estive internada, naquela enfermaria, pude observar o amor paciente das enfermeiras e enfermeiros que cuidavam de mim e dos demais,  a habilidade e o carinho dos médicos que se faziam presentes e cito, num hospital público. Como não ter prazer em viver num mundo com pessoas assim? Ali, naquele momento, tive ainda a mais absoluta de todas as certezas: nada no mundo se move a não ser impulsionada pela mola do Amor!
Hoje, mesmo com tempos chuvosos ou a medida que os raios de sol beijam a minha cozinha, eu brindo para a vida, desejando que algumas situações mudem sim, mas agradecendo a cada momento, cada segundo que me é permitido respirar livremente, saudavelmente. Faço um brinde à minha família, filhas,genros, minha irmã, meu neto  de alma, o qual ajudo a criar com um amor intenso; brindo aos meus amigos; brindo a todas essas pessoas incríveis, sem as quais eu não poderia viver.
A vida está aqui, comigo, serelepe e feliz! Mil oportunidades estão surgindo, assim como muitas dores de cabeça devido a problemas ainda não resolvidos...mas, o que importa?
A festa começou e estou nela! Estou dentro! Ela está aqui, em minha casa novamente!
Voltar aos 20 anos novamente?
Não! Viver sim, intensamente meu 62 anos, abraçando a vida com muito mais alegria, cuidando para que venham mais muitos e muitos anos,dando vasão  à todo esse fogo de vida que arde em meu coração. Porque a juventude não está no físico simplesmente: está na alma de quem sabe como envelhecer quando isso se torna inevitável. E graças a Deus por isso!
Posso afirmar com toda certeza: ser jovem é muito bom, mas, saber envelhecer é uma delícia!




Liette A.Lima
Baseada em depoimentos de amigos

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