quinta-feira, 23 de outubro de 2014

FATOS MARCANTES DE 1901

                             ATENTADOS  EM  SÉRIE


Em termos de ameaça aos seus chefes de Estado, os Estados Unidos não precisariam de inimigos externos. O atentado que resultou na morte de McKinley não foi a primeira nem a última vez que americanos investiram contra seus presidentes.

 Em 1865, a violenta tradição fez a sua primeira vítima fatal, o presidente Abraão Lincoln, assassinado por um ator dentro de um teatro.

 Além de James Garfield, morto em 1881, o mesmo fim aguardava John Kennedy, abatido a tiros de fuzil em Dallas, em 1963. A tragédia repetiu-se cinco anos depois com seu irmão Robert Kennedy, quando era forte candidato à presidência. Melhor sorte tiveram Andrew Jackson, Theodore e Franklin Roosevelt, Harry Truman, Gerald Ford e Ronald Regan, todos sobreviventes de atentados.

Os dois tiros que mataram o presidente americano William McKinley, em setembro de 1901, tinham como provável alvo um modelo de sociedade baseado cada vez mais na concentração de capital privado.
Apoiando a formação de grandes corporações monopolistas ( os trustes), o republicano McKinley havia tirado os Estados Unidos de um longo período de depressão econômica. o assassino, um operário anarquista, desempregado do setor de siderurgia, encarnava a insatisfação da parcela dos americanos que não acreditava no capital financeiro do norte como locomotiva da prosperidade nacional. Seu nome era Leon Czolgosz tinha 28 anos e atingiu McKinley à queima roupa numa exposição em Buffalo, Estado de Nova York.

O governo de McKinley representou a  afirmação definitiva das forças da industrialização sobre a América rural. O presidente assassinado estava em seu segundo mandato _ derrotara dias vezes o democrata populista William Bryan _ e contava com o apoio dos expoentes do capitalismo, entre eles Mark Hanna, o magnata do aço de Cleveland, que levou os donos do poder econômico a fazer política. A feição dos EUA do século XX começara a se delinear no governo McKinley.
A prosperidade econômica acabou deflagrando a política imperialista dos EUA. Ela também teve início com McKinley, especialmente com a guerra hispano-americana em 1898, quando um conjunto de colônias espanholas _ entre elas Cuba e Porto Rico _foi arrebatado sem maior  dificuldade.
Na verdade, McKinley era contra a guerra, mas como bom estadista soube atender às pressões internas, que vinham de políticos ambiciosos, como aquele que viria a ser seu vice-presidente( no mandato seguinte) e sucessor: Theodore Roosevelt. 


Por sua vez, o expansionismo defendido e posteriormente praticado por Roosevelt refletia o apetite econômico dos baluartes da prosperidade americana. Na prática, a corporação gigante Standarr Oil já constituia um império empresarial crescente na Europa e na Ásia, enquanto a United States Steel Corporation era fundada com o capital sem precedentes de US$ 1 bilhão.
Os EUA tinham as maiores fortunas pessoais do mundo ( Rockfeller, Carnegie, Morgan) e tinham William Randolph Hearst, o magnata das comunicações após a explosão do navio de guerra americano " Maine" no porto de Havana _ jamais esclarecida_ Hearst iniciou uma campanha que praticamente empurrou McKinley para a guerra.
O presidente que deu os primeiros contornos de potência mundial aos EUA morreu no dia 14 de setembro de 1901, oito dias após o atentado. Seu assassino foi executado na cadeira elétrica.
William McKinley foi o 25* presidente dos Estados Unidos da América.





///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

                            AMERICANOS  NO  ACRE

O território do Acre foi arrendado pelo Governo da Bolívia a um grupo empresarial dos Estados Unidos, diretamente ligado ao Governo  americano.A operação despertou temores de invasão territorial por parte dos vizinhos do Norte. Dois anos depois, com a assinatura do tratado de Petrópolis, o Acre seria incorporado ao território brasileiro.
/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

                        NOVIDADE: ELÉTRONS
Observando o comportamento de átomos de urânio, o físico francês Henri Becquerel demonstrou a emissão de raios provenientes de partículas menores que o próprio átomo, passo decisivo para a confirmação da existência dos elétrons.

////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

         O TRIBUTO MÁXIMO À CIÊNCIA E À PAZ

A criação do prêmio Nobel é a história de um desafio pessoal.Certa vez o industrial sueco Alfred Nobel abriu o jornal e viu a noticia de seu próprio falecimento. O texto referia-se a ele como o " mercador da morte", em alusão ao fato de ter sido o inventor da dinamite.
 A partir desse dia, passou a cultivar a obsessão de deixai um legado de paz.
Quando morreu de fato, em 1896, Nobel surpreendeu a todos com seu testamento. Ele destinava 94% de sua fortuna à instituição de um prêmio anual para as principais realizações da humanidade nas áreas de  física, química, medicina,literatura e promoção da paz ( a de economia seria acrescentada em 1969). Os primeiros prêmios foram concedidos em 10 de dezembro de 1901, no quinto aniversário  da morte de Nobel.
Em todas as categorias, o prêmio Nobel firmou-se como a mais alta forma de reconhecimento. Mas nenhuma delas alcançou a notoriedade de Nobel da Paz _ não por acaso, a obsessão do seu criador. A premiação desafiou ditaduras, como no caso de Adolfo Péres Esquivel, em 1980, defensor dos direitos humanos sob o regime militar argentino; ou do Dalai Lama (1989), por sua resist~encia à dominação do Tibete pela China.
Alguns dos ganhadores do Nobel da Paz mudaram a história do século XX, como o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov ( 1990), que negociou o fim da Guerra Fria. e os sul-africanos Frederik de Klerk e Nelson Mandela( 1993), que pactuaram o fim do apartheid.
O prêmio Nobel também cometeu suas injustiças. A mais famosa delas atingiu Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade, ignorada pelo prêmio.As mais célebres omissões, no entanto, ocorreram na categoria literatura. Entre os esquecidos do Nobel estão James Joyce, Bertolt Brecht, Tchecov, Leon Tolstói, Franz Kafka e Marcel Proust, entre outros vultos que passaram pelo século XX.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

CURIOSIDADES EM 1900,1901,1902

                   O início de um novo século


O último ano do século XIX foi tão estranho, mas tão estranho que, contra o veredito científico, o senso comum o incluiu neste século XX, o mais estranho dos séculos: Mil e novecentos contrapôs  às Grandes Descobertas dos séculos XV e XVI a Grande Descoberta do mar interior, do inconsciente, marcado pela publicação do seminal ! A interpretação dos sonhos" de Sigmund Freud. Na verdade, outra estranheza, o livro saiu em 1899, mas seu editor, num arroubo premonitório, o datou de 1900. No ano seguinte, a rainha Vitória morreria, sem sombra de dúvida levando no caixão o século XIX. E, em 1902, o pioneiro Georges Méliès filmaria " Viagem à Lua", antecipando as fantasias cinematográficas de Spielberg.


            Passagem para o mundo atômico

Em  14 de dezembro de 1900, o físico alemão Max Planck apresentou à Sociedade Física Alemã, em Berlim, uma descoberta que revolucionaria a ciência e marcaria o século XX: diferentemente do que se acreditava até então, os átomos não irradiavam energia de um modo contínuo e suave, mas em pequenos rompantes, batizados por Planck de quanta ( plural do latim quantum, quantidade).

Essa descoberta marcou o nascimento da física quântica, que lida com os fenômenos que ocorrem no âmbito microscópico, como os átomos e suas partículas _ prótons, nêutrons, elétrons e fótons. Foi graças à senda aberta por Planck que, em 1905, Albert Einstein ligou os efeitos fotoelétricos aos quanta de luz ( que só mais tarde seriam chamados de fótons). Mais tarde, a física quântica iria ser aplicada, entre outros ramos, à física nuclear.
Nela, ocupa lugar capital a chamada Constante de Planck, representada pela letra h: 6,62 X 10 à trigésima-quarta potência negativa joule por segundo. Multiplicada por v ( que representada a frequência de uma luz monocromática), ela é capaz de medir as emissões de quanta, estabelecendo uma relação entre energia e tempo, relação correspondente a uma grandeza física chamada  ação. Planck, portanto, de certa forma, inventou toda a complexa física moderna.
A ruptura dessa física quântica como a física clássica  a princípio não foi pressentida nem mesmo pelo seu próprio autor, como Planck confessa em sua autobiografia. Talvez por isso ele não tenha tomado parte muito ativa no rapidíssimo desenvolvimento que a teoria dos quanta experimentou nas primeiras duas décadas do século. Seu bastão foi empunhado por gente como seu compatriota Einstein e o dinarmaquês Niels Bohr, cujo estudo sobre a estrutura do átomo ganhou o Premio Nobel de Física de 1922. De qualquer forma, quatro anos antes Planck já havia sido reconhecido pelo mesmo prêmio por sua contribuição ao avanço da ciência.

Planck morreu em 1947, aos 89 anos, sempre conservando extrema dignidade na vida particular e pública _ nem se enamorou pelo nazismo nem deixou-se seduzir pela ideia de deixar sua pátria. por sinal, perdeu dois filhos em nome dela: um em combate, durante a primeira Guerra Mundial; outro, fuzilado em 1944, por envolvimento numa conspiração que pretendia assassinar Hitler.

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////

   O NASCIMENTO DA GENÉTICA MODERNA

O abade agostiniano austríaco Johann Gregor Mendel morreu em 1884,aos 62 anos, mas, seu trabalho ecoa mais alto que nunca no final do século XX. Mendel é o responsável por duas leis fundamentais da genética, essa ciência que hoje em dia nos lembra imediatamente uma ovelha clonada chamada Dolly: a primeira diz que as características de um ser são controladas por pares de fatores que não se misturam durante a vida 9 e que cada fator de um par transmite a uma célula os processos reprodutivos anteriores à fertilização); a segunda, que durante o processo reprodutivo cada elemento de um par de características contrastantes pode se combinar com um ou outro elemento do outro par, numa relação de total independência. Trocando em miúdos: Mendel fundou a genética _ e a teoria da hereditariedade _ moderna.


Contudo, somente em 1900 sua importância foi reconhecida e proclamada por três pesquisadores que redescobriram independentemente seus dois artigos batizados de " Experiências sobre a hibridização das plantas ", originalmente apresentadas em conferência diante da Sociedade de Ciências naturais de Brno, em 1856. Hugo de Vries, na Holanda; Karl Erich Currens, na Alemanha; Erich Tschermak, na Áustria. Graças aos trabalhos desses quatro homens, Mendel e seus experimentos com plantas à frente, a genética se desenvolveu e passou a englobar noções hoje corriqueiras, como a do código genético.
/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

        O LOUCO ARAUTO DO SUPER HOMEM

Como Oscar Wilde, o filósofo alemão Friederich Nietzsche  faz parte da galera de gênios que só foram devidamente compreendidos depois de mortos. Logo ele, que criticava o Cristianismo por considerar seus ideias de eternidade uma forma de renúncia à vida. Nietzsche tornou-se referência obrigatória para a compreensão do homem moderno _ mas morreu doente, solitário e louco, a 25 de agosto de 1900, depois de 11 anos de internação.

A loucura não chegava a ser, contudo,um problema para Nietzsche. Crítico implacável do reinado da razão, ele via a loucura como manifestação de um saber escondido, na medida em que subvertia os costumes e os valores vigentes. A doença também teve papel importante na vida e na obra de Nietzsche. Aos 26 anos ele contraiu difteria e disenteria, origem de suas dores de cabeça e de estômago. Logo apareceriam problemas de visão e na fala, que interromperiam sua carreira de professor. mas tudo isso era relativizado por Nietzsche. sobre um período de três dias de terrível sofrimento com dores de cabeça e vômitos comentou : " (...) Conservei maravilhosa limpidez dialética e refleti com bastante sangue frio sobre problemas para os quais, quando estpu são, não me sinto suficientemente ágil, perspicaz, frio".

A relação " produtiva" de Nietzsche com suas tragédias pessoais é compreensível, pois via nas tragédias gregas o verdadeiro caminho do conhecimento humano _ em oposição ao racionalismo do " homem teórico" inaugurado por Sócrates. Para Nietzsche, só o " homem trágico" carrega a essência da vida ( e da morte) que repousa nos sentidos, não na razão. A obsessão humana com o estabelecimento de valores " verdadeiros", baseados num universo subjetivo forjado pelo próprio homem, motivou uma das principais obras de Nietzsche, " Humano, demasiado humano"( 1878).
A quebra total da moral feita de valores arbitrados é proposta pelo filósofo na figura do super homem, símbolo central do pensamento nietzschiano. Acima do bem e do mal _ e das convenções de uma cultura decadente _ ele resgata a essência da vida, a vontade de potência, voltando a transformá-la em força criadora e não dominadora ( para ele, a própria negação da vida).
A profecia do super homem que está na obra " Assim falou Zaratustra "( 1884), chegou a ser identificado com o nazismo: após a morte do autor, devido à sua antiga simpatia por Wagner, notório anti-semita, e a má fé de sua irmã, casada com outro anti-semita. Porém, Nietzsche foi ao mesmo tempo um antidemocrata e um antitotalitário, pois se opunha a formas de organização do estado que impedissem o desenvolvimento da cultura.
/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    DESCOBERTOS OS GRUPOS SANGUINEOS

                       TRANSFUSÕES ERAM  QUESTÃO DE SORTE

Antes da existência dos grupos sanguíneos,os médicos faziam transfusões de sangue sem saber se levariam os pacientes à cura ou à morte. A escolha do sangue era aleatória _frequentemente ele provinha de animais_ e o resultado era tão previsível quanto um lance de dados, o que levou  a maior parte dos  países da Europa a proibir as transfusões.
Quem tirou à ciência do obscurantismo no ramo da classificação sanguínea foi o imunologista austríaco Karl Lansteiner ( 1868- 1943). Ele derrubou uma premissa de três séculos, segundo a qual todo e qualquer sangue era igual, ou seja, mantinha as mesmas características mesmo quando misturados de diferentes origens.

Em 1900, Landsteiner descobriu que o sangue retirado de uma pessoa frequentemente coagulava ao entrar em contato com as células sanguíneas de outra. Demonstrou então que isso  ocorria pela existência de diferentes antígenos no sangue, reveladores de grupos distintos, que classificou como A,B, O e posteriormente, AB.
Três anos antes de morrer, Landsteiner via sua descoberta ser aprimorada por Philip Levine, imunologista americano de origem russa. Estudando uma doença letal_ a destruição dos glóbulos vermelhos do sangue de um feto _ Levine descobriu um componente sanguíneo que chamou de Rh ( por causa dos macacos  rhesus, suas cobaias). 

A combinação de mães com Rh negativo e pais com Rh positivo, descobriu ele, produziria fetos com o mesmo fator sanguíneo dos pais, mas com  anticorpos que destruíam seus glóbulos vermelhos. Testes para o fator Rh logo se tornaram procedimento rotineiro.
////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

domingo, 19 de outubro de 2014

O QUE ACONTECEU EM 1900

ACONTECIMENTOS MARCANTES NESSA ÉPOCA

Há argumentos respeitáveis contra a ideia de datar o fim do século XIX com a morte de Vitória. A propósito, algum tempo antes, o Astrônomo Real garantira ser 1900 o último ano do século XIX e não o primeiro do século XX, assim resolvendo essa dúvida desagradável para todo o sempre.
O verdadeiro marco seria, segundo alguns, a publicação de " A Interpretação dos Sonhos", por Sigmund Freud, em 1900. Pode ser, mas, se foi, ninguém reparou na época: o livro levou oito anos para vender 600 exemplares. Outra possibilidade é esticar o século findo até a Grande Guerra, realmente um marco notável, tanto pelo número de vítimas que enterrou como pelas alterações que cavou no mapa da Europa. O mundo  que saiu das trincheiras em 1918 era em tudo diferente daquele que tinha ido à luta quatro anos antes. No entanto, se houve uma metamorfose na Europa e nos Estados Unidos, certamente o efeito não foi igual no resto do planeta. Enfim, se outro argumento não existir, é preciso defender o século em que moramos. Se ele começa em 1918 e termina ( é outra briga) com a derrubada do Muro de Berlim, sobra-nos um século nanico.
De resto, o século XIX talvez seja a nossa última chance de dar faze e corpo a uma era.

       O SÉCULO QUE MORREU DE VELHICE

O corpo pequeno ocupava pouco espaço na cama quadrada. Era amparado de um lado pelo médico particular; de outro pelo neto mais velho da mulher que estava morrendo. Os dois a mantiveram quase sentada, para que respirasse melhor, durante cinco horas. O esforço foi maior para o neto, com seu braço esquerdo atrofiado de nascença _ mas a honra compensava as caimbras. À frente da cama, os parentes próximos se apinhavam, pescoços eram esticados na tentativa de capturar um último sinal de reconhecimento. Sem muito sucesso. Por volta de seis e meia da tarde, ela pareceu ter identificado o primogênito. Disse " Bertie", suspirou e morreu.
Era 24 de janeiro de 1901, na Osborne House, Ilha de Wight. Fora-se a Rainha Vitória.
Depois de reinar 63 anos num império que hasteava sua bandeira na quarta parte do mundo conhecido, talvez não exista exagero em ver nela um símbolo do século que terminara menos de um mês antes. A rainha Vitória era teimosa, ranheta, razoavelmente culta em alguns pontos e soberanamente ignorante em muitos outros, preconceituosa, religiosa e implacável no uso de todas as formas de poder reservadas ao trono ( e de quantas mais ela pudesse se apropriar).
São traços de um perfil coerente, diga-se assim, com um século marcado, na ótica européia, por imperialismo e puritanismo.
Vitória sem dúvida alguma personificava o império e a aparência de virtude. Reclamava no primogênito, futuro Eduardo VII, a profusão de amantes; principalmente,indignava-o o fato de os casos amorosos de Bertie caírem em domínio público.
O certo era ser como ela, que nunca tirara o luto fechado, desde a morte do marido, o príncipe Albert.O que não a impediria de determinar que as aias colocassem em seu caixão, junto com um roupão bordado do consorte, uma foto e mecha de cabelos de John Brown, o criado escocês que a rainha viúva possivelmente amara numa relação provavelmente platônica.
Era assim a Vitória, era assim a Inglaterra e seu vasto império. 


O império era próspero e, apesar da sujeira e da miséria visíveis em quase toda Londres, bastante contente consigo mesmo. Em 1899, Lady Salisbury, mulher do último primeiro-ministro de Vitória resumia esse sentimento: " A geração jovem pode nos criticar à vontade. Algum dia ela conseguirá algo tão bom como temos tido?"
Em 1901 algo tão bom estava mostrando as primeiras rachaduras no reboco. A última audiência de trabalho da rainha já adoentada foi com Lorde Roberts, que tinha a missão de fazê-la entender como as magníficas tropas imperiais estavam levando surra atrás de surra de um bando de fazendeiros na África do Sul. Desde a vitória sobre Napoleão, em 1895, a pax britannica não sofrera ameaça importante. A inadmissível teimosia dos bõeres seria derrotada depois da morte da rainha e o império só  desapareceria depois da independência da Índia, já na metade do século XX. Mas os sinais eram visíveis: o império e o puritanismo nunca mais veriam anos como aqueles de Vitória. Muito cedo, até o neto de braço atrofiado que acompanhara o seu último suspiro brigaria com o resto da família. E ele, o kaiser Guilherme II, lançaria a Alemanha na aventura sangrenta da Grande Guerra de 1914- 1918.
Nada mostra mais nitidamente a duração do reinado de Vitória do que o fato de que o seu sepultamento consistiu de uma série de cerimônias magníficas marcadas por tremendas confusões nos bastidores e algumas gafes em via pública.
Não era de admirar: não restava uma pessoa viva no país com know-how de enterrar reis.
Vitória foi da Ilha de Wight para Londres, de onde um trem a levou para Windsor. Antes que o corpo saísse da Osborne de Albert, o médico pessoal, James Reid, examinara o corpo e confirmara diagnóstico anterior: a rainha não sofrera doença fatal. Morreu de velhice aos 81 anos. Como os seus tempos e o seu século. Mais ou menos na data do calendário ou uns tantos anos depois, que diferença faz?
Vitória, oriunda da Casa de Hanôver foi rainha do Reino Unido desde o ano de 1837 até a sua morte em 1901, sucedendo ao tio Guilherme IV. A incorporação da Índia ao Império Britânico no ano de 1877 conferiu à Vitória o título de Imperatriz da Índia.
Ela foi casada com Alberto de Saxe-Coburgo-Gota ( 1840-1861).
Filhos: Eduardo VII do Reino Unido/  Vitória, Princesa Real do Reino Unido/  Alice do Reino Unido/ Beatriz do Reino Unido/ Alfredo de Saxe- Coburgo-Gota/ Luiza do reino Unido/ Helena do Reino Unido/ Leopoldo, Duque de Albany/ Artur, Duque de Connaught.
Era filha de Vitória Saxe-Coburgo-Saalfeld e Eduardo, Duque de Kent e Strathearn.
Era neta do rei Jorge III do Reino Unido, através do seu pai. Batizada com o nome Alexandrina Vitória, a família tratava-a informalmente por Drina. A então princesa Vitória de Kent tornou-se politicamente relevante com a morte, em 1830, do tio Jorge IV, sucedido por Guilherme IV também sem filhos. Em 1837 sucedeu a Guilherme IV no Reino Unido.



A história da Hemofilia é provavelmente tão antiga como a história do homem, mas não seria tão largamente conhecida se a Rainha Vitória de Inglaterra e os seus descendentes não estivessem directamente envolvidos.

Conta-se que Vitória estava apaixonada pelo primo, o príncipe Albert de Saxe-Cobourg-Gotha e assim tomou a iniciativa de pedi-lo em casamento (visto que na época ninguém poderia fazer tal pedido a uma rainha). Ele aceitou. Foi a primeira vez que se teve notícias de alguém casar por amor. Vitória era ousada e acrescentou ao seu traje nupcial algo proibido para uma rainha da época – um véu. Nascia aí um costume que atravessaria o tempo e daria a Vitória o reconhecimento de trazer para a nossa época o amor, para unir um homem e uma mulher.
Fontes ligadas a esta matéria inclinam-se para o fato de que a hemofilia apareceu nas famílias reais por causa da consanguinidade, fato que não ficou provado ser realmente verdadeiro. Primeiro, porque na época era prática comum entre todas as famílias da Europa, elevadas e baixas, casarem entre primos, dentro da sua própria cidade ou vila, pois assim a pureza do sangue era fortalecida. Segundo, só o fato de uma princesa germânica se ter casado com um príncipe da Rússia (Alexandra e Nicholas II) contrariou também este conceito.
A união de Vitória e Albert marcou o começo da hemofilia na linha real britânica que eventualmente afetou a maioria das casas reais da Europa, merecendo assim o título de "doença real" ou "doença de sangue azul". A Rainha Vitória, portadora do cromossoma X defeituoso, culpou-se ela própria por esta ocorrência, aquando do nascimento do seu oitavo filho, o Príncipe Leopoldo e, subsequentemente, dos seus netos, através das suas filhas Alice e Beatriz. De acordo com Lady Elizabeth Longford, "Uma nuvem de preocupação e perplexidade no futuro atingiu a Rainha, causada pelo seu correto entendimento de que a hemofilia não acontecia ‘só na sua família’. Mas afinal donde é que ela vinha?"
Fontes sugerem que isto ocorreu através de uma mutação genética espontânea quando os primos direitos Vitória e Albert casaram. Longford especulou:


A Rainha pode ter herdado o gene da sua mãe, a Duquesa de Kent, uma princesa de Saxe-Coburg. Mas isto parece não ser provável porque nenhum caso de hemofilia pode ser identificado em ambos os lados da família da Duquesa e nenhuma evidência de hemofilia pode ser também encontrada na família do Duke. Contudo, existiu nas crianças de Vitória e Albert. O príncipe Leopoldo foi a única vítima de entre as suas crianças e em consequência o único transmissor do sexo masculino. As duas Princesas Alice e Beatriz foram transmissoras e os seus casamentos espalharam a doença pelas casas reais da Europa.
Enquanto Vitória observava este flagelo que tinha caído no seu próprio filho, e depois nos seus netos e bisnetos, a mais poderosa mulher do mundo lamentava unicamente, "A nossa pobre família parece perseguida por esta terrível doença". Ela não poderia ter sabido que transmitindo o gene da hemofilia aos seus descendentes, estava a mudar o curso da realeza e da história.
Leopoldo casou em 1882, tinha 29 anos de idade. A sua noiva, Helena de Wedbeck, deu-lhe 2 crianças; uma filha, Alice e um filho. Mas antes do filho ter nascido Leopoldo morreu depois de uma queda em Cannes, tinha 31 anos. A sua filha Alice era certamente portadora e pelo menos um dos seus descendentes, Rupert, tinha hemofilia e veio a falecer em 1928, depois de um acidente de automóvel.
A princesa Beatriz era a filha mais nova da Rainha Vitória. Ela ficou em casa com a mãe durante toda a sua vida. Mesmo o seu casamento com o Príncipe de Battenberg não foi capaz de a retirar do lado da sua mãe. Uma pessoa tímida e sofredora, a Princesa Beatriz ficou conhecida por encostar o seu ombro ao do seu vizinho à mesa de jantar. Ela ficou desolada pela morte do marido em 1896, em África, durante a Guerra Anglo-Boer. Depois da morte da sua mãe, em 1901, Beatriz viveu para as suas crianças, principalmente para a sua filha, Vitória Eugenia. Mãe e filha partilhavam muito em comum, nomeadamente ambas eram portadoras de hemofilia, como ficou conhecido depois de Vitória Eugenia se tornar Rainha de Espanha.


Luiz Garcia...editor de Opinião do Globo
Lello Universal
História da Inglaterra