segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

AS NOSSAS VALOROSAS RENDEIRAS

Continuando a nossa viagem pelo Nordeste, vamos visitar as maravilhosas rendeiras do Ceará. E conhecer um pouco mais sobre esse trabalho magnífico.
O ofício de rendeira surgiu no final da Idade Média, na França, Inglaterra, Itália e Alemanha.  A arte de lidar com as rendas só foi introduzido no Brasil no século XVIII, com a chegada das famílias portuguesas , durante o período de colonização. Fazia parte da educação feminina, praticado pelas moças da sociedade, porém, com o passar do tempo, foi estendido às jovens do povo.


Existe uma lenda que diz:
- “um jovem pescador usando pela primeira vez uma rede de pescar tecida pela sua noiva, apanhou do fundo do mar uma belíssima alga petrificada, que ofereceu à sua eleita. Tempos depois, partiu para a guerra. A noiva, saudosa e com pensamento voltado para o ausente, um dia, teceu outra rede que reproduziu o modelo da alga; os fios dessa rede eram terminados por pequenos chumbos. Assim foi descoberta a renda chamada “a piombiini” ou de chumbos; os chumbos foram posteriormente substituídos por bilros. Dessa forma, de um pensamento amoroso teria surgido a renda de bilros.” ( Rendas e Bordados do Maranhão – FUNC-MA).


Os primeiros registros da renda foram na época dos faraós, que usavam um tecido de linho com fios coloridos e trabalhando-os em desenhos geométricos. 


No século XIV a igreja católica tornou-se o principal cliente e usuário de rendas.

Em 1547, no reinado da Francesa Caterina de Médici, a renda foi introduzida na corte francesa. Nos séculos XVII e XVIII, a renda aparecia adornando as cabeças das damas, nos babados dos vestidos, em aventais e em enfeites de vestidos. Durante estes períodos, a renda também estava presente na roupa masculina, principalmente no século XVIII que foi uma época aura do uso das rendas pela corte francesa, presentes nos vestidos de Maria Antonieta, Madame Pompadour, entre tantos outros participantes da realeza. 


No inicio do século XIX, a renda ainda estava presente em vestidos, casacos, luvas, enfeites de lençóis, xales, mantilhas entre outras peças do vestuário das damas da sociedade.
Já no Brasil a renda de bilro, foi trazida pelos portugueses e durante muito tempo foi a ocupação de freiras nos conventos. Elas teciam alfaias para os altares das igrejas. Tanto no Brasil como em Portugal, atualmente a renda de bilro é feita por mulheres de pescadores em geral. Esse fator é associado à chegada das rendas nos litorais.


No Brasil, as primeiras rendeiras surgiram na região nordeste; elas elaboravam tramas confeccionadas com linho. Aos poucos este ofício, transmitido de mãe para filha, passou a ser feita com matérias-primas diferentes, como algodão, seda, viscose, náilon e elastano.

Este procedimento transformou a renda em um material de menor custo e, por isso, começou a se tornar menos elitista. Durante boa parte do século XX, este tecido ficou restrito a pequenos detalhes das roupas íntimas e dos trajes de noiva.

A mulher rendeira faz parte do imaginário popular brasileiro e é, desde muito, transmissora de um conhecimento que, mesmo não fazendo parte do que se considera  ais como educação formal, ela existe e tem sua importância social. Este conhecimento permeia a história de muitas famílias de mulheres que ainda tentam transmiti-lo para as novas gerações. Daí a necessidade de entendimento de um cotidiano que, além de tradicional, alinha-se e se insere às necessidades do mundo de mercado sendo, ao mesmo tempo, trabalho de mulheres e modo de produção de riqueza.

O ofício de rendeira é dificílimos, trabalhoso e lindo. É praticado por  mulheres que tecem o dia a dia com finos fios. A força que emana da tradição de tramar as linhas é real. E o fio que conecta essas mulheres, entre gerações de uma mesma família, é que parece torná-las o que são: mulheres que lutam bravamente e que, ao mesmo tempo, desempenham um ofício minucioso e delicado. Com paciência e maestria seguem fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família já faziam, mas revisitam e atualizam as formas e os pontos que fazem hoje. De modo que estão, ao mesmo tempo, com um pé no passado e outro no presente.
Algumas rendeiras trabalham em grupo; conversam, cantam, fumam.
Segundo declarações de uma dessas mulheres fabulosas... “Quando você está na almofada, menino chora, panela queima, marido briga, você se esquece do mundo.” Ela vira o rosto e se concentra para terminar mais um ponto.
                  Renda Frivolité
Uma rendeira, que em seu trabalho tece habilidosamente peças extraordinárias, passando de geração em geração um ofício e uma arte, verificamos que, apesar de leiga, do ponto de vista da pedagogia e da ciência, essa “mestra” cumpre de modo brilhante, com eficiência e eficácia os objetivos a que se propõe: produzir e ensinar o que produz, perpetuando a existência do oficio.
Curioso é pensar que nas universidades e centros de profissionalização, apesar de todo o acesso à ciência e tecnologia, muitas vezes os mestres que lá trabalham não conseguem atingir esses mesmos objetivos básicos. Em muitos desses centros nem se produz um saber, nem se ensina a produzir esse mesmo saber. O máximo que se consegue é “formar” profissionais muitas vezes medíocres que vão se encarregar de perpetuar a reprodução de um saber igualmente medíocre, mantendo o estado de coisas que vem nos conduzindo ao caos social, econômico e cultural.


existem duas categorias de rendas:
-uma produzida com o auxílio de bilros. Outra é confeccionada com o uso de agulhas, como é o caso da renda renascença, o filé e o labirinto. Em outros casos, há agulhas especiais, como para produzir crochê e tricô. Tanto a renascença como a renda de bilro é produzida em cima de almofadas.
FILÉ:  Esta técnica milenar encontra-se difundida sobretudo nos estados de Alagoas e Ceará. O filé surge a partir de uma rede simples, composta de malhas e de nós, e por isso é também denominado “rede de nó”, seguindo a técnica de confecção da rede de pescador, que lhe serve de inspiração. É muito utilizada pela região de Salgado de São Félix, na Paraíba.

RENASCENÇA: A renda renascença é uma técnica têxtil que teve sua origem na ilha de Burano, em Veneza, Itália, no século XVI. É confeccionada com agulha, linha e lacê de algodão. Em uma primeira etapa, faz-se o desenho sobre papel, que é preso sobre a almofada. O lacê é então afixado sobre o papel com a ajuda de alfinetes e entremeado pelos diferentes pontos da renda. Cada ponto é nominado segundo elementos da natureza, comidas, ou expressam na renda sentimentos e esperanças de quem os criou: aranha, abacaxi, traça, cocada, xerém, amor seguro, laço, sianinha, malha e amarrado. Muito divulgada na região de Jataúba, Pernambuco.


IRLANDESA: a renda irlandesa, ou ponto de Irlanda, surgiu na Europa, possivelmente no norte da Itália, em torno dos séculos XVI ou XVII. Sua tradição foi mantida nos conventos da Irlanda, de onde se difundiu para diversas partes do mundo. No Brasil, este tipo de renda é executado há várias gerações pelas artesãs sergipanas de Divina Pastora, fazendo parte do seu patrimônio cultural. Caracteriza-se pelo uso de lacê, um cordão sedoso o que a diferencia da renda renascença. É elaborada com linha e agulha que, seguindo o roteiro de desenhos feitos em papel grosso e que é preso em almofada, perpassam os meandros e os florões delineados com o lacê, formando assim uma variada combinação de pontos. Vê-se muito na região de Divina Pastora, em Recife.

LABIRINTO:  também conhecido como Crivo é um tipo de renda de agulha e tem como característica o fio desfiado preliminarmente, o qual é tecido com linha, seguindo os desenhos estabelecidos. O processo de feitura possui 6 etapas: escolher o tecido e tirar a metragem; riscar o desenho; desfiar o tecido; fazer o enchimento; torcer e perfilar. Encontra-se muito nas regiões de Ingá, Chá dos Pereira, João Pessoa, Serra Redonda, Juarez Távora – Paraíba).


RENDA DE BILRO: Diversos são os “pontos” preparados: abacaxi, folha em renda, cocadinha, não-me-deixe, mata-fome, quadro, margarida, coração, palma, ziguezague, trocado, trança, trocadinho, matachim, aranha, meus olhos, escadinha de Cupido entre outros.




A renda de bilros é feita sobre uma almofada com enchimento de crina, serragem ou algodão; tal amofada é em geral recoberta de tecido cujas cores não agridam a vista. A almofada pode ser presa num suporte de madeira, mas há rendeiras que simplesmente a apoiam numa cadeira ou banquinho. A almofada é a base sobre a qual se executam as rendas e nela se prende o cartão com o esquema em cima do qual irão se trançando os bilros, ‘a medida que se prendem os compassos com alfinetes. Os bilros são uma espécie de haste de madeira provida de uma cabecinha numa das extremidades. Sobre ela enrola-se a linha para fazer a renda. Os bilros são sempre utilizados aos pares.
NHANDUTI: as rosas  de Tenerife e as diferencia claramente de outras técnicas de estilo similar como Sol de Salamanca, Ponto da Catalunha e Sol de Casar. O Sol e o Ponto da Cataluña são feitos com agulha sobre tecido, enquanto no caso da Renda de Tenerife se utiliza uma almofada onde se fazem círculos a partir dos quais se monta a rosa na forma radial fazendo a trama com nós e pontos guipur. Acredita-se que esse tipo de trabalho com renda começou a se realizar no século XVI e a renda Nhanduti ou de Tenerife é a única técnica que se manteve.  No Brasil é conhecida como Renda do Sol.


Diz a lenda que a Nhanduti surgiu a partir do trabalho de uma jovem indígena, cujo amado havia desaparecido no dia do casamento. Ela o encontrou morto no meio da floresta e passou a noite abraçada a seu corpo. Quando o sol nasceu, a indiazinha notou que um belo manto de teia de aranha cobria o corpo do noivo. A jovem foi atrás de linha para copiar o trabalho das aranhas e o resultado foi uma linda mortalha de renda. Assim nascia a primeira peça de Nhanduti.
      Rendas brasileiras


Fontes:
Brasil, Turismo e você... Editora Abril S.a





Nenhum comentário:

Postar um comentário