domingo, 19 de outubro de 2014

O QUE ACONTECEU EM 1900

ACONTECIMENTOS MARCANTES NESSA ÉPOCA

Há argumentos respeitáveis contra a ideia de datar o fim do século XIX com a morte de Vitória. A propósito, algum tempo antes, o Astrônomo Real garantira ser 1900 o último ano do século XIX e não o primeiro do século XX, assim resolvendo essa dúvida desagradável para todo o sempre.
O verdadeiro marco seria, segundo alguns, a publicação de " A Interpretação dos Sonhos", por Sigmund Freud, em 1900. Pode ser, mas, se foi, ninguém reparou na época: o livro levou oito anos para vender 600 exemplares. Outra possibilidade é esticar o século findo até a Grande Guerra, realmente um marco notável, tanto pelo número de vítimas que enterrou como pelas alterações que cavou no mapa da Europa. O mundo  que saiu das trincheiras em 1918 era em tudo diferente daquele que tinha ido à luta quatro anos antes. No entanto, se houve uma metamorfose na Europa e nos Estados Unidos, certamente o efeito não foi igual no resto do planeta. Enfim, se outro argumento não existir, é preciso defender o século em que moramos. Se ele começa em 1918 e termina ( é outra briga) com a derrubada do Muro de Berlim, sobra-nos um século nanico.
De resto, o século XIX talvez seja a nossa última chance de dar faze e corpo a uma era.

       O SÉCULO QUE MORREU DE VELHICE

O corpo pequeno ocupava pouco espaço na cama quadrada. Era amparado de um lado pelo médico particular; de outro pelo neto mais velho da mulher que estava morrendo. Os dois a mantiveram quase sentada, para que respirasse melhor, durante cinco horas. O esforço foi maior para o neto, com seu braço esquerdo atrofiado de nascença _ mas a honra compensava as caimbras. À frente da cama, os parentes próximos se apinhavam, pescoços eram esticados na tentativa de capturar um último sinal de reconhecimento. Sem muito sucesso. Por volta de seis e meia da tarde, ela pareceu ter identificado o primogênito. Disse " Bertie", suspirou e morreu.
Era 24 de janeiro de 1901, na Osborne House, Ilha de Wight. Fora-se a Rainha Vitória.
Depois de reinar 63 anos num império que hasteava sua bandeira na quarta parte do mundo conhecido, talvez não exista exagero em ver nela um símbolo do século que terminara menos de um mês antes. A rainha Vitória era teimosa, ranheta, razoavelmente culta em alguns pontos e soberanamente ignorante em muitos outros, preconceituosa, religiosa e implacável no uso de todas as formas de poder reservadas ao trono ( e de quantas mais ela pudesse se apropriar).
São traços de um perfil coerente, diga-se assim, com um século marcado, na ótica européia, por imperialismo e puritanismo.
Vitória sem dúvida alguma personificava o império e a aparência de virtude. Reclamava no primogênito, futuro Eduardo VII, a profusão de amantes; principalmente,indignava-o o fato de os casos amorosos de Bertie caírem em domínio público.
O certo era ser como ela, que nunca tirara o luto fechado, desde a morte do marido, o príncipe Albert.O que não a impediria de determinar que as aias colocassem em seu caixão, junto com um roupão bordado do consorte, uma foto e mecha de cabelos de John Brown, o criado escocês que a rainha viúva possivelmente amara numa relação provavelmente platônica.
Era assim a Vitória, era assim a Inglaterra e seu vasto império. 


O império era próspero e, apesar da sujeira e da miséria visíveis em quase toda Londres, bastante contente consigo mesmo. Em 1899, Lady Salisbury, mulher do último primeiro-ministro de Vitória resumia esse sentimento: " A geração jovem pode nos criticar à vontade. Algum dia ela conseguirá algo tão bom como temos tido?"
Em 1901 algo tão bom estava mostrando as primeiras rachaduras no reboco. A última audiência de trabalho da rainha já adoentada foi com Lorde Roberts, que tinha a missão de fazê-la entender como as magníficas tropas imperiais estavam levando surra atrás de surra de um bando de fazendeiros na África do Sul. Desde a vitória sobre Napoleão, em 1895, a pax britannica não sofrera ameaça importante. A inadmissível teimosia dos bõeres seria derrotada depois da morte da rainha e o império só  desapareceria depois da independência da Índia, já na metade do século XX. Mas os sinais eram visíveis: o império e o puritanismo nunca mais veriam anos como aqueles de Vitória. Muito cedo, até o neto de braço atrofiado que acompanhara o seu último suspiro brigaria com o resto da família. E ele, o kaiser Guilherme II, lançaria a Alemanha na aventura sangrenta da Grande Guerra de 1914- 1918.
Nada mostra mais nitidamente a duração do reinado de Vitória do que o fato de que o seu sepultamento consistiu de uma série de cerimônias magníficas marcadas por tremendas confusões nos bastidores e algumas gafes em via pública.
Não era de admirar: não restava uma pessoa viva no país com know-how de enterrar reis.
Vitória foi da Ilha de Wight para Londres, de onde um trem a levou para Windsor. Antes que o corpo saísse da Osborne de Albert, o médico pessoal, James Reid, examinara o corpo e confirmara diagnóstico anterior: a rainha não sofrera doença fatal. Morreu de velhice aos 81 anos. Como os seus tempos e o seu século. Mais ou menos na data do calendário ou uns tantos anos depois, que diferença faz?
Vitória, oriunda da Casa de Hanôver foi rainha do Reino Unido desde o ano de 1837 até a sua morte em 1901, sucedendo ao tio Guilherme IV. A incorporação da Índia ao Império Britânico no ano de 1877 conferiu à Vitória o título de Imperatriz da Índia.
Ela foi casada com Alberto de Saxe-Coburgo-Gota ( 1840-1861).
Filhos: Eduardo VII do Reino Unido/  Vitória, Princesa Real do Reino Unido/  Alice do Reino Unido/ Beatriz do Reino Unido/ Alfredo de Saxe- Coburgo-Gota/ Luiza do reino Unido/ Helena do Reino Unido/ Leopoldo, Duque de Albany/ Artur, Duque de Connaught.
Era filha de Vitória Saxe-Coburgo-Saalfeld e Eduardo, Duque de Kent e Strathearn.
Era neta do rei Jorge III do Reino Unido, através do seu pai. Batizada com o nome Alexandrina Vitória, a família tratava-a informalmente por Drina. A então princesa Vitória de Kent tornou-se politicamente relevante com a morte, em 1830, do tio Jorge IV, sucedido por Guilherme IV também sem filhos. Em 1837 sucedeu a Guilherme IV no Reino Unido.



A história da Hemofilia é provavelmente tão antiga como a história do homem, mas não seria tão largamente conhecida se a Rainha Vitória de Inglaterra e os seus descendentes não estivessem directamente envolvidos.

Conta-se que Vitória estava apaixonada pelo primo, o príncipe Albert de Saxe-Cobourg-Gotha e assim tomou a iniciativa de pedi-lo em casamento (visto que na época ninguém poderia fazer tal pedido a uma rainha). Ele aceitou. Foi a primeira vez que se teve notícias de alguém casar por amor. Vitória era ousada e acrescentou ao seu traje nupcial algo proibido para uma rainha da época – um véu. Nascia aí um costume que atravessaria o tempo e daria a Vitória o reconhecimento de trazer para a nossa época o amor, para unir um homem e uma mulher.
Fontes ligadas a esta matéria inclinam-se para o fato de que a hemofilia apareceu nas famílias reais por causa da consanguinidade, fato que não ficou provado ser realmente verdadeiro. Primeiro, porque na época era prática comum entre todas as famílias da Europa, elevadas e baixas, casarem entre primos, dentro da sua própria cidade ou vila, pois assim a pureza do sangue era fortalecida. Segundo, só o fato de uma princesa germânica se ter casado com um príncipe da Rússia (Alexandra e Nicholas II) contrariou também este conceito.
A união de Vitória e Albert marcou o começo da hemofilia na linha real britânica que eventualmente afetou a maioria das casas reais da Europa, merecendo assim o título de "doença real" ou "doença de sangue azul". A Rainha Vitória, portadora do cromossoma X defeituoso, culpou-se ela própria por esta ocorrência, aquando do nascimento do seu oitavo filho, o Príncipe Leopoldo e, subsequentemente, dos seus netos, através das suas filhas Alice e Beatriz. De acordo com Lady Elizabeth Longford, "Uma nuvem de preocupação e perplexidade no futuro atingiu a Rainha, causada pelo seu correto entendimento de que a hemofilia não acontecia ‘só na sua família’. Mas afinal donde é que ela vinha?"
Fontes sugerem que isto ocorreu através de uma mutação genética espontânea quando os primos direitos Vitória e Albert casaram. Longford especulou:


A Rainha pode ter herdado o gene da sua mãe, a Duquesa de Kent, uma princesa de Saxe-Coburg. Mas isto parece não ser provável porque nenhum caso de hemofilia pode ser identificado em ambos os lados da família da Duquesa e nenhuma evidência de hemofilia pode ser também encontrada na família do Duke. Contudo, existiu nas crianças de Vitória e Albert. O príncipe Leopoldo foi a única vítima de entre as suas crianças e em consequência o único transmissor do sexo masculino. As duas Princesas Alice e Beatriz foram transmissoras e os seus casamentos espalharam a doença pelas casas reais da Europa.
Enquanto Vitória observava este flagelo que tinha caído no seu próprio filho, e depois nos seus netos e bisnetos, a mais poderosa mulher do mundo lamentava unicamente, "A nossa pobre família parece perseguida por esta terrível doença". Ela não poderia ter sabido que transmitindo o gene da hemofilia aos seus descendentes, estava a mudar o curso da realeza e da história.
Leopoldo casou em 1882, tinha 29 anos de idade. A sua noiva, Helena de Wedbeck, deu-lhe 2 crianças; uma filha, Alice e um filho. Mas antes do filho ter nascido Leopoldo morreu depois de uma queda em Cannes, tinha 31 anos. A sua filha Alice era certamente portadora e pelo menos um dos seus descendentes, Rupert, tinha hemofilia e veio a falecer em 1928, depois de um acidente de automóvel.
A princesa Beatriz era a filha mais nova da Rainha Vitória. Ela ficou em casa com a mãe durante toda a sua vida. Mesmo o seu casamento com o Príncipe de Battenberg não foi capaz de a retirar do lado da sua mãe. Uma pessoa tímida e sofredora, a Princesa Beatriz ficou conhecida por encostar o seu ombro ao do seu vizinho à mesa de jantar. Ela ficou desolada pela morte do marido em 1896, em África, durante a Guerra Anglo-Boer. Depois da morte da sua mãe, em 1901, Beatriz viveu para as suas crianças, principalmente para a sua filha, Vitória Eugenia. Mãe e filha partilhavam muito em comum, nomeadamente ambas eram portadoras de hemofilia, como ficou conhecido depois de Vitória Eugenia se tornar Rainha de Espanha.


Luiz Garcia...editor de Opinião do Globo
Lello Universal
História da Inglaterra

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