segunda-feira, 20 de outubro de 2014

CURIOSIDADES EM 1900,1901,1902

                   O início de um novo século


O último ano do século XIX foi tão estranho, mas tão estranho que, contra o veredito científico, o senso comum o incluiu neste século XX, o mais estranho dos séculos: Mil e novecentos contrapôs  às Grandes Descobertas dos séculos XV e XVI a Grande Descoberta do mar interior, do inconsciente, marcado pela publicação do seminal ! A interpretação dos sonhos" de Sigmund Freud. Na verdade, outra estranheza, o livro saiu em 1899, mas seu editor, num arroubo premonitório, o datou de 1900. No ano seguinte, a rainha Vitória morreria, sem sombra de dúvida levando no caixão o século XIX. E, em 1902, o pioneiro Georges Méliès filmaria " Viagem à Lua", antecipando as fantasias cinematográficas de Spielberg.


            Passagem para o mundo atômico

Em  14 de dezembro de 1900, o físico alemão Max Planck apresentou à Sociedade Física Alemã, em Berlim, uma descoberta que revolucionaria a ciência e marcaria o século XX: diferentemente do que se acreditava até então, os átomos não irradiavam energia de um modo contínuo e suave, mas em pequenos rompantes, batizados por Planck de quanta ( plural do latim quantum, quantidade).

Essa descoberta marcou o nascimento da física quântica, que lida com os fenômenos que ocorrem no âmbito microscópico, como os átomos e suas partículas _ prótons, nêutrons, elétrons e fótons. Foi graças à senda aberta por Planck que, em 1905, Albert Einstein ligou os efeitos fotoelétricos aos quanta de luz ( que só mais tarde seriam chamados de fótons). Mais tarde, a física quântica iria ser aplicada, entre outros ramos, à física nuclear.
Nela, ocupa lugar capital a chamada Constante de Planck, representada pela letra h: 6,62 X 10 à trigésima-quarta potência negativa joule por segundo. Multiplicada por v ( que representada a frequência de uma luz monocromática), ela é capaz de medir as emissões de quanta, estabelecendo uma relação entre energia e tempo, relação correspondente a uma grandeza física chamada  ação. Planck, portanto, de certa forma, inventou toda a complexa física moderna.
A ruptura dessa física quântica como a física clássica  a princípio não foi pressentida nem mesmo pelo seu próprio autor, como Planck confessa em sua autobiografia. Talvez por isso ele não tenha tomado parte muito ativa no rapidíssimo desenvolvimento que a teoria dos quanta experimentou nas primeiras duas décadas do século. Seu bastão foi empunhado por gente como seu compatriota Einstein e o dinarmaquês Niels Bohr, cujo estudo sobre a estrutura do átomo ganhou o Premio Nobel de Física de 1922. De qualquer forma, quatro anos antes Planck já havia sido reconhecido pelo mesmo prêmio por sua contribuição ao avanço da ciência.

Planck morreu em 1947, aos 89 anos, sempre conservando extrema dignidade na vida particular e pública _ nem se enamorou pelo nazismo nem deixou-se seduzir pela ideia de deixar sua pátria. por sinal, perdeu dois filhos em nome dela: um em combate, durante a primeira Guerra Mundial; outro, fuzilado em 1944, por envolvimento numa conspiração que pretendia assassinar Hitler.

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   O NASCIMENTO DA GENÉTICA MODERNA

O abade agostiniano austríaco Johann Gregor Mendel morreu em 1884,aos 62 anos, mas, seu trabalho ecoa mais alto que nunca no final do século XX. Mendel é o responsável por duas leis fundamentais da genética, essa ciência que hoje em dia nos lembra imediatamente uma ovelha clonada chamada Dolly: a primeira diz que as características de um ser são controladas por pares de fatores que não se misturam durante a vida 9 e que cada fator de um par transmite a uma célula os processos reprodutivos anteriores à fertilização); a segunda, que durante o processo reprodutivo cada elemento de um par de características contrastantes pode se combinar com um ou outro elemento do outro par, numa relação de total independência. Trocando em miúdos: Mendel fundou a genética _ e a teoria da hereditariedade _ moderna.


Contudo, somente em 1900 sua importância foi reconhecida e proclamada por três pesquisadores que redescobriram independentemente seus dois artigos batizados de " Experiências sobre a hibridização das plantas ", originalmente apresentadas em conferência diante da Sociedade de Ciências naturais de Brno, em 1856. Hugo de Vries, na Holanda; Karl Erich Currens, na Alemanha; Erich Tschermak, na Áustria. Graças aos trabalhos desses quatro homens, Mendel e seus experimentos com plantas à frente, a genética se desenvolveu e passou a englobar noções hoje corriqueiras, como a do código genético.
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        O LOUCO ARAUTO DO SUPER HOMEM

Como Oscar Wilde, o filósofo alemão Friederich Nietzsche  faz parte da galera de gênios que só foram devidamente compreendidos depois de mortos. Logo ele, que criticava o Cristianismo por considerar seus ideias de eternidade uma forma de renúncia à vida. Nietzsche tornou-se referência obrigatória para a compreensão do homem moderno _ mas morreu doente, solitário e louco, a 25 de agosto de 1900, depois de 11 anos de internação.

A loucura não chegava a ser, contudo,um problema para Nietzsche. Crítico implacável do reinado da razão, ele via a loucura como manifestação de um saber escondido, na medida em que subvertia os costumes e os valores vigentes. A doença também teve papel importante na vida e na obra de Nietzsche. Aos 26 anos ele contraiu difteria e disenteria, origem de suas dores de cabeça e de estômago. Logo apareceriam problemas de visão e na fala, que interromperiam sua carreira de professor. mas tudo isso era relativizado por Nietzsche. sobre um período de três dias de terrível sofrimento com dores de cabeça e vômitos comentou : " (...) Conservei maravilhosa limpidez dialética e refleti com bastante sangue frio sobre problemas para os quais, quando estpu são, não me sinto suficientemente ágil, perspicaz, frio".

A relação " produtiva" de Nietzsche com suas tragédias pessoais é compreensível, pois via nas tragédias gregas o verdadeiro caminho do conhecimento humano _ em oposição ao racionalismo do " homem teórico" inaugurado por Sócrates. Para Nietzsche, só o " homem trágico" carrega a essência da vida ( e da morte) que repousa nos sentidos, não na razão. A obsessão humana com o estabelecimento de valores " verdadeiros", baseados num universo subjetivo forjado pelo próprio homem, motivou uma das principais obras de Nietzsche, " Humano, demasiado humano"( 1878).
A quebra total da moral feita de valores arbitrados é proposta pelo filósofo na figura do super homem, símbolo central do pensamento nietzschiano. Acima do bem e do mal _ e das convenções de uma cultura decadente _ ele resgata a essência da vida, a vontade de potência, voltando a transformá-la em força criadora e não dominadora ( para ele, a própria negação da vida).
A profecia do super homem que está na obra " Assim falou Zaratustra "( 1884), chegou a ser identificado com o nazismo: após a morte do autor, devido à sua antiga simpatia por Wagner, notório anti-semita, e a má fé de sua irmã, casada com outro anti-semita. Porém, Nietzsche foi ao mesmo tempo um antidemocrata e um antitotalitário, pois se opunha a formas de organização do estado que impedissem o desenvolvimento da cultura.
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    DESCOBERTOS OS GRUPOS SANGUINEOS

                       TRANSFUSÕES ERAM  QUESTÃO DE SORTE

Antes da existência dos grupos sanguíneos,os médicos faziam transfusões de sangue sem saber se levariam os pacientes à cura ou à morte. A escolha do sangue era aleatória _frequentemente ele provinha de animais_ e o resultado era tão previsível quanto um lance de dados, o que levou  a maior parte dos  países da Europa a proibir as transfusões.
Quem tirou à ciência do obscurantismo no ramo da classificação sanguínea foi o imunologista austríaco Karl Lansteiner ( 1868- 1943). Ele derrubou uma premissa de três séculos, segundo a qual todo e qualquer sangue era igual, ou seja, mantinha as mesmas características mesmo quando misturados de diferentes origens.

Em 1900, Landsteiner descobriu que o sangue retirado de uma pessoa frequentemente coagulava ao entrar em contato com as células sanguíneas de outra. Demonstrou então que isso  ocorria pela existência de diferentes antígenos no sangue, reveladores de grupos distintos, que classificou como A,B, O e posteriormente, AB.
Três anos antes de morrer, Landsteiner via sua descoberta ser aprimorada por Philip Levine, imunologista americano de origem russa. Estudando uma doença letal_ a destruição dos glóbulos vermelhos do sangue de um feto _ Levine descobriu um componente sanguíneo que chamou de Rh ( por causa dos macacos  rhesus, suas cobaias). 

A combinação de mães com Rh negativo e pais com Rh positivo, descobriu ele, produziria fetos com o mesmo fator sanguíneo dos pais, mas com  anticorpos que destruíam seus glóbulos vermelhos. Testes para o fator Rh logo se tornaram procedimento rotineiro.
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